terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

medo.



Ela teve medo que ele corresse perigo. Muito medo. “O medo corta a vida”, diria Rubem Alves. E se não foi bem assim que ele disse era assim que ela se lembrava.
Lembrava também que animais não sentem medo, vivem um momento de cada vez, não pensam sobre o futuro e quando o futuro não importa, quando não há sonhos ou histórias para viver, então o medo também não tem razão de ser.
Dizem que o medo até preserva a vida (do corpo), mas para a vida do amor o medo é inútil. Pena que, mesmo sabendo de tudo, o medo estava fazendo parte dela naquele instante. Não medo de perdê-lo, mas medo de que ele perdesse algo de valor por causa dela. Ele não a culparia, mas ela sim. Então chorou. Chorou lágrima pura e transparente e mesmo sem ver ele sentiu. Estavam tão longe, tão longe que o encontro era só através de algumas imagens. Pela imagem em conjunção com as palavras ele teve certeza que ela chorava. Ele não conseguia ver as lágrimas caindo como rios pela face dela, afinal lágrimas não tem cor, entretanto ele podia olhar o semblante dela de sorriso e alívio, por vê-lo fora de perigo, e junto com essa alegria muitas lágrimas e a expressão de quem chora rindo, mais pela explosão de emoções sentidas no curto espaço de tempo do que por tristeza. Ele estava fora de perigo, ela podia sorrir e ver que o rosto dele também tinha um semblante parecido que era a miscigenação da felicidade, infelicidade e angústia. Felicidade de vê-la, infelicidade por estar tão longe. Angústia por vê-la chorando e não poder tocá-la ou enxugar seu rosto. De fato não a via, ela não era só aquela imagem, mas além das palavras, a imagem era tudo que ele tinha,por isso gravava cada uma na alma,como fotos para que pudesse olhar sempre e recordar-se de como eram os traços de seu rosto, o brilho de seu olhar, o sorriso na sua boca... Lembrar que ela sentira medo, e esse medo que cortava a vida era um medo de quem sentia, mas não de quem sentia somente medo. Porque se animais não sentem medo não é só porque não sonham, não é só porque não tem perspectiva de tempo ou de futuro, talvez seja porque não sentem como sentimos, nem amem da forma que somos capazes de amar. (Aline)

Nenhum comentário: