sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Fragmentos


Desconfio que envelheci. E talvez envelhecer seja saber escolher. Algumas coisas, não topo mais. Como sair de uma festa escura e esfumaçada me sentindo estranha por não ter ficado até a alta madrugada. Não preciso provar mais nada pra ninguém. Nem pra mim mesma. Saudade de gostar de ficar quieta. Saudade da temperatura do amor. De paz, calmaria e preguiça. E uma vontade de acreditar que existe alguém assim, como eu, em busca de alguém assim, como eu. Talvez pensando agora sobre a mesma falta.
Mas como é difícil encontrar o amor. É que amor de verdade não é feito só de pele. O que o torna amor é ser feito de alma. Sua matéria-prima é a cumplicidade. Você pode se relacionar há anos, ser casado com uma pessoa e não ser dela um cúmplice. Se ela não disser sim, não há o que eu chamo de amor. Cumplicidade é alguma coisa que você pode conquistar com alguém que parece estar longe. Uma pessoa com quem você se corresponde, por exemplo, pode chegar tão perto do seu coração, mesmo que você não a conheça fisicamente. Isso pode ser amor. Amor de alma.
Outra coisa importante é a afinidade. Afinidade é quando a gente tem muitas coisas parecidas com alguém. Pode ser uma coisa que a gente gosta de fazer, uma coisa na vida que emociona a gente, pode ser uma vontade, um sonho — ou muitos deles. Afinidade também é o que faz duas pessoas quererem dormir de conchinha, por exemplo. Nem que seja por 10 minutos. Ou o que deixa a sensação de estar levando a outra pessoa com a gente, aconteça o que acontecer. Como se ela fosse uma parte de você e você, uma parte dela. A capacidade de fazer o outro rir é outra deliciosa afinidade. Rir é o que faz a gente voltar a ser criança. Quando alguém sabe rir e fazer rir, a gente diz que essa pessoa tem humor. E quando uma pessoa tem humor ela sabe rir principalmente de si mesma – até nas situações mais difíceis.
Parece que as melhores coisas da vida são mesmo as mais difíceis de se encontrar...mas a gente encontra.
Quando nasce um amor novo, é difícil resistir à tentação de alimentá-lo só com a presença. Mas é preciso deixar o amor respirar. Se você colocar uma flor bem bonita dentro de uma redoma, com medo que o vento e o tempo levem sua beleza, manterá por muito pouco tempo o que dela é bonito.O que tenho aprendido sobre o amor, é que ele é feito de faltas e presenças. E que nenhuma das duas pode faltar. Ele é feito de falta, mas não sobrevive sem a presença. O amor é feito de hoje.Tenho aprendido que o amor é feito de liberdade. É como ter, todos os dias, muitas outras opções. E ainda assim fazer a mesma livre escolha.